O Piquenique de Domingo
Todo domingo era dia de piquenique. Não precisava ser nada elaborado. Às vezes era só um pão com queijo enrolado no guardanapo, um suco na garrafa térmica, e uma toalha velha estendida no gramado da praça. Mas para Gabriel, aquilo era um ritual sagrado.
Ele contava os dias na escola. Segunda, terça, quarta... e chegava sexta-feira com uma ansiedade boa: logo seria domingo, dia de sair cedo com o pai.
O pai de Gabriel não tinha muito tempo durante a semana. Trabalhava de sol a sol, chegava suado, cansado, mas nunca deixava de sentar uns minutos com o filho para perguntar sobre a escola. Às vezes corrigia a lição, outras vezes apenas ouvia as histórias intermináveis que só crianças sabem contar com tanto entusiasmo.
Mas domingo... ah, domingo era diferente. Era o dia inteiro deles dois.
Caminhavam até a praça de mãos dadas. O pai ensinava o nome das árvores. Falava dos pássaros. Contava causos antigos. Jogavam bola. Ou apenas ficavam deitados olhando as nuvens, inventando formas engraçadas.
O que impressionava quem via de longe era a simplicidade. Um pai presente não precisava de presentes caros. Bastava estar lá. Bastava rir junto, consolar quando o joelho ralava, dar o ombro para apoiar um cochilo de tarde.
Gabriel cresceu ouvindo “eu te amo” dito de um jeito simples, no meio da rua, sem cerimônia. Cresceu sabendo que errar não era o fim do mundo, porque sempre teria alguém para ajudar a levantar.
Na escola, ele era daqueles alunos que confiavam em si mesmos. Não porque acertava tudo, mas porque sabia que era amado mesmo quando errava. E todo professor percebia: Gabriel tinha segurança no olhar.
Muitos anos depois, já adulto, Gabriel ainda fazia piqueniques. Às vezes sozinho, outras vezes com amigos, ou com os próprios filhos. Sempre sorria ao abrir a toalha no gramado. E em silêncio agradecia ao pai, que lhe ensinou que estar presente é o maior presente que alguém pode dar.
Perguntas interpretativas
1. Qual a principal razão para o domingo ser tão especial para Gabriel e seu pai?
2. O que o texto sugere sobre o caráter do pai, mesmo ele chegando cansado do trabalho?
3. Complete: “Um pai presente não precisa de __________.” Qual o sentido dessa frase no texto?
4. Você concorda com a ideia de que simplicidade pode criar momentos especiais? Justifique oralmente.
5. Reescreva o final da crônica imaginando Gabriel adulto sem filhos. Como ele lembraria desses domingos?
6. No trecho “Jogavam bola. Ou apenas ficavam deitados...”, por que há ponto em vez de vírgula? Explique o efeito.
7. Identifique no texto sinais de que o narrador é alguém que valoriza o afeto familiar. Quais expressões reforçam isso?
8. Qual o gênero textual da crônica? Cite duas características presentes nela que justificam sua resposta.
9. Escreva um parágrafo narrando um momento especial com alguém querido, usando detalhes sensoriais (sons, cheiros, cores).
10. Explique o sentido figurado da expressão “dar o ombro para apoiar um cochilo de tarde” e por que foi escolhida.