O Coração de Breno no Arraiá da Escola São José
Era uma tarde de sábado, e a Escola São José, no interior do Acre, já estava toda enfeitada com bandeirinhas coloridas, balões de papel e cheiro de milho assando no ar. A festa junina era aguardada o ano inteiro, e o destaque do evento seria a quadrilha mirim com o tema: “O forró que embala o coração”, ao som de “Olha pro céu, meu amor”, de Luiz Gonzaga.
Breno, de nove anos, vestia sua camisa xadrez azul com remendos costurados pela avó, calça de brim com barra dobrada e um chapéu de palha meio torto. Estava ansioso. Era a primeira vez que dançaria a quadrilha como um dos noivinhos.
— “Mãe, o pai já chegou?”, perguntou Breno, ajeitando o chapéu na frente do espelho.
— “Ainda não, filho... Ele teve um imprevisto no trabalho. Mas ele queria muito estar aqui.”, respondeu a mãe, tentando disfarçar a tristeza com um sorriso forçado.
A irmã caçula, Bia, apareceu com um pirulito de milho verde na mão e disse:
— “Eu vou te ver dançar, Breno! Vai ser lindo!”
Breno apenas assentiu com a cabeça, tentando segurar a decepção. Sua avó, que mexia o curau numa panelinha no fundo do pátio da escola, notou o semblante do neto.
— “Quem dança no terreiro da vida, meu neto, não para por causa de um passo torto. Vá lá, se divirta!”
Chegando ao ponto de encontro com os colegas da quadrilha, Breno encontrou seu amigo João, o sanfoneiro mirim da festa.
— “E aí, Breno! Tá pronto pro arrasta-pé?”
— “Tô sim... só meio triste porque meu pai não vem mais.”
— “Ah, rapaz! Ele vai ver as fotos depois. Agora bora aproveitar! Eu até decorei a música só pra te animar!”
Enquanto os pares se organizavam, a diretora Railda anunciava no microfone:
— “Atenção, pessoal! Está chegando a hora da nossa quadrilha principal! Vamos dar as boas-vindas aos noivinhos da noite!”
A professora Iracema, com um vestido florido e uma fita enorme no cabelo, ajudava os alunos a se alinharem.
— “Breno, seu par vai ser a Letícia. Lembrou dos passos que a gente ensaiou?”
— “Lembrei sim, professora. A senhora é a melhor pra ensinar a gente!”
A música começou. “Olha pro céu, meu amor...” ecoou pelos altos-falantes, e a quadrilha começou com um animado “Anarriê!”. Breno, apesar do aperto no peito, sorriu ao girar com Letícia, esquecendo por um momento a ausência do pai.
Após a dança, ele correu para a barraca do pau de sebo, onde alguns meninos tentavam sem sucesso alcançar a bandeirinha no topo.
— “Quero tentar também!”, disse ele.
— “Mas você vai escorregar!”, gritou Bia, rindo.
— “Se eu cair, caio sorrindo!”, respondeu Breno, já sujando a calça de gordura.
Depois de escorregar duas vezes e sair todo melado, ganhou de presente uma maçã do amor da mãe.
— “Você é corajoso, meu filho. O importante é não desistir de tentar.”
— “Mãe... o pai vai ficar triste por ter perdido tudo isso?”
— “Vai, sim. Mas ele vai ficar mais feliz ainda de saber que você se divertiu.”
Ao cair da noite, com fogueira acesa e pipoca voando da panela, Breno sentou no chão, ao lado da avó.
— “Vó, mesmo sem o pai aqui, hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida.”
— “Pois então guarde isso, meu neto. Felicidade também se planta com festa, milho e coração contente.”
E ali, no meio de uma escola cheia de risos, bandeiras e cheiro de canjica, Breno aprendeu que as alegrias nem sempre vêm completas — mas que mesmo incompletas, elas podem ser inesquecíveis.
Perguntas interpretativas relacionadas a crônicas
1. (Múltipla escolha) Qual era o tema da quadrilha apresentada na escola São José?
a) “Viva São João e Santo Antônio”
b) “O forró que embala o coração”
c) “As bandeirinhas do sertão”
d) “No terreiro da alegria”
2. (Completar com uma palavra do texto) A música que embalava a quadrilha era “Olha pro céu, meu amor”, de Luiz __________.
3. (Ordenar os eventos) Numere os acontecimentos conforme a ordem em que aparecem na crônica:
( ) Breno dança a quadrilha com Letícia.
( ) A irmã Bia aparece com um pirulito de milho.
( ) Breno tenta subir no pau de sebo.
( ) A mãe conta que o pai dele não virá para a festa.
4. (Verdadeiro ou falso)
( ) A avó de Breno fez a fantasia dele e deu conselhos durante a festa.
( ) Breno ficou triste o tempo todo e não conseguiu aproveitar nada.
( ) A professora Iracema ajudou na organização da quadrilha.
( ) A escola estava enfeitada com luzes de Natal.
5. (Escolha a alternativa correta) Qual das frases abaixo foi dita por Breno durante a festa?
a) “Se eu cair, caio sorrindo!”
b) “Hoje eu não quero dançar, estou cansado.”
c) “Eu não gosto de quadrilha.”
d) “Eu vou embora, ninguém veio me ver.”
6. (Reescrita ortográfica) Reescreva corretamente a frase dita pela avó, corrigindo o erro de ortografia:
> “Quem dança no terreiro da vida, meu neto, não para por causa de um passo torto.”
7. (Completar com concordância correta) Complete a frase a seguir:
A escola São José e os alunos ___________ muito animados com a festa junina.
a) estavam
b) estava
c) estávamos
d) estive
8. (Relacionar colunas) Relacione cada personagem com sua ação na história:
1 – Professora Iracema
2 – João
3 – Diretora Railda
4 – Mãe do Breno
a – Anunciou a quadrilha no microfone
b – Tocava sanfona e animava o amigo
c – Ajudou Breno a se posicionar para a dança
d – Consolou o filho pela ausência do pai
9. (Resposta curta) Por que Breno estava triste no início da festa?
10. (Assinale a opção com a melhor pontuação) Qual das frases abaixo está pontuada corretamente?
a) Mãe o pai não vem mais?
b) Mãe... o pai não vem mais.
c) Mãe, o pai não vem mais?
d) Mãe o pai, não vem mais?
11. (Escolha a expressão típica da linguagem oral usada na crônica)
a) “Quem dança no terreiro da vida...”
b) “Ele vai ver as fotos depois.”
c) “Tá pronto pro arrasta-pé?”
d) “Hoje foi um dos dias mais felizes.”
12. (Explique com suas palavras) O que Breno aprendeu ao final da crônica?